Análise Completa: A Aplicação do Dinheiro no Brasil

💰 Será que o dinheiro do país é mal aplicado? | Análise Completa

Construção da Rodovia Transamazônica em 1972

📜 Contexto Histórico

Novamente nos reportamos à História para entendermos como foi aplicado o dinheiro do Brasil. No inicio do século XX, o Brasil, na condição de país agrário, importava todos os produtos industrializados por valores bastante elevados. Muitos desses produtos serviam somente a uma pequena parcela da população, mas mesmo assim eram adquiridos.

Na atividade cafeicultora, os investimentos em ferrovias eram privados, basicamente de empresas inglesas interessadas em transportar o café brasileiro até o porto. Porém, quando esta atividade entrou em decadência devido à crise mundial de 1929, as empresas não tinham o que transportar, acumulando prejuízos. O governo brasileiro assumiu essas empresas, juntamente com suas dívidas.

⚡ Crise mundial de 1929

A situação econômica instável no início do século XX, com produção excedente e baixo poder de consumo, culminou com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 e desencadeou uma crise internacional.

🏗️ Obras Faraônicas na Ditadura Militar (1964-1984)

O maior exemplo de gastos públicos exorbitantes ocorreu durante a Ditadura Militar (1964-1984). Aos militares faltava legitimidade para governar. No entanto, fizeram diversos empréstimos internacionais e investiram em obras faraônicas, muitas delas desnecessárias.

🛣️ Rodovia Transamazônica

O presidente Emilio Garrastazu Médici inaugura placa de bronze marcando o início oficial da construção da rodovia Transamazônica, em 9 de outubro de 1970, no Pará.

O objetivo era construir uma rodovia que interligasse o Brasil ao oceano Pacífico com projeto de quase 6.000 km, partindo da Paraíba e cortando a Floresta Amazônica. Não foi concluída, mas ali foram gastos cerca de 1,5 bilhão de dólares.

⚛️ Usinas nucleares de Angra dos Reis

Angra I (custo de US$ 308 milhões no contrato, mas fala-se em custo final de US$ 9 bilhões), Angra II (custo aproximado de US$ 12 bilhões) e Angra III (custo final ainda não estimado, pois não foi instalada).

💡 Usina hidrelétrica de Balbina

A usina hidrelétrica de Balbina foi projetada durante o governo Figueiredo (1979-1984), e inaugurada em 1988. Construída no Rio Uatumã, fornece energia para a cidade de Manaus (AM). Como o vale do Uatumã tem pequenas variações de altitude, foi necessário inundar uma grande área para a formação da represa (2,3 mil km²). Apesar da grande extensão de florestas submersas, o total de energia gerado pela usina é muito baixo, de apenas 240 MW. Atente para o custo do projeto: 1 bilhão de dólares. Este foi um caso de péssima relação custo/benefício. Balbina é até hoje reconhecida como uma tragédia ambiental e de planejamento.

⚡ Usina hidrelétrica de Tucuruí

A usina hidrelétrica de Tucuruí, localizada no Rio Tocantins a 300 km de Belém (PA), tem capacidade instalada de 4.000 MW. Foi inaugurada em 1984 e atualmente conta com planos para aumento de sua produção para 7.900 MW. Beneficia mais de 11 milhões de habitantes no Norte e Nordeste do país. Durante a sua construção, planejou-se a remoção da floresta e o aproveitamento das madeiras nobres da área inundada, mas a empresa escolhida - sem concorrência - para a remoção das árvores não demonstrou competência para a tarefa. Milhões de toneladas de madeira ficaram submersas.

🌊 Usina hidrelétrica de Itaipu

A usina hidrelétrica de Itaipu foi inaugurada em 1982. Foi uma obra de dois países sob ditadura militar: Brasil e Paraguai. Com 7.000 MW (parte brasileira), responde atualmente por 17,3% do consumo de energia elétrica do Brasil. Já foi maior obra do tipo em todo o mundo.

🌉 Ponte Rio-Niterói

Ponte Rio-Niterói: com o nome oficial de Presidente Costa e Silva, essa obra foi inaugurada em 1974. Tem 13 km de extensão e uma importância estratégica para a economia fluminense, bem como para a comunicação rodoviária do país.

🌱 Proálcool

Proalcool: movido pelo Choque do Petróleo (1973) e o súbito aumento dos seus derivados, o governo Geisel desenvolveu o programa de substituição da gasolina pelo etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar. Embora na década de 1980 o programa Proálcool tenha quase desaparecido, atualmente as tecnologias geradas pelo Proálcool colocam o país em destaque internacional. O Brasil é o detentor da melhor tecnologia e produção de combustíveis eficientes e renováveis, contribuindo também para a solução da questão do aquecimento global.

🚂 Ferrovia do Aço

Ferrovia do Aço: foi planejada para ser uma importante ligação entre as jazidas de ferro de Minas Gerais e os mercados de consumo doméstico e exportação. Depois de gastos mais de 2 bilhões de dólares, a ferrovia, privatizada em diversos trechos, liga apenas algumas cidades dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Esse foi um dos projetos mais desastrosos do período militar.

📌 Choque do Petróleo (1973)

O primeiro Choque do Petróleo (1973) foi a consequência de um movimento político dos países-membros da OPEP. Os preços do petróleo aumentaram subitamente 800% em um contexto em que os países árabes se colocaram contra o favorecimento dos países ocidentais a Israel no conflito árabe-israelense. O mundo foi abalado por novos choques do petróleo nos anos de 1979 e 1980. Esses movimentos políticos tiveram profundas consequências na economia global, causando crises energéticas e recessão. Por outro lado, o encarecimento dos derivados de petróleo incentivou a pesquisa de jazidas em todo o globo e o desenvolvimento de alternativas energéticas, como é o caso do Proálcool no Brasil.

📊 Crescimento Econômico e Dívida Externa

Ao ler a relação das grandes obras planejadas e geradas durante os governos militares, provavelmente você terá a impressão de que aquele período foi marcado por um grande desenvolvimento econômico. E isso é verdade, principalmente se compararmos a taxa de crescimento da economia de então com o lento ritmo de crescimento das décadas de 1990 e 2000 marcadas pelo retorno dos governos democráticos.

Se, em anos mais recentes (2004, 2005 e 2006) o PIB do Brasil cresceu a uma média aproximada de 2,8% ao ano, a média do período 1970-1979 era de 8,6% ao ano. Sem dúvida, a economia foi muito mais dinâmica durante a ditadura.

Contudo, o planejamento não foi eficiente. Quando o Programa Grande Carajás estava pronto, por exemplo, o custo de implantação já havia gerado grande dívida, enquanto a produção dos minérios ainda era pequena, além da desvantagem de um mercado externo em baixa, que não pagava bom preço pelos minérios exportados.

📈 Dívida Externa Brasileira (1968-2012)

Ano Valor (em milhões de dólares)
1968 4.092
1969 4.635
1970 6.240
1971 8.284
1972 11.464
1973 14.857
1974 20.032
1975 25.115
1976 32.145
1977 37.951
1978 52.187
1979 55.803
1980 64.259
1981 73.963
1982 85.487
1983 93.745
1984 102.127
1985 105.171
1986 111.203
1987 121.188
1988 113.511
1989 115.506
1990 123.438
1991 123.910
1992 135.948
1993 145.725
1994 148.295
1995 159.256
1996 179.934
1997 199.997
1998 241.644
1999 241.468
2000 236.156
2001 226.067
2002 227.689
2003 235.414
2004 220.182
2005 187.987
2006 199.372
2007 240.495
2008 262.909
2009 277.563
2010 351.940
2011 404.116
2012 441.667

Durante muitos anos, a dívida externa brasileira foi uma das maiores do mundo. E, também durante longo período, os rendimentos do total ou da maior parte das exportações brasileiras foram utilizados para pagar a dívida externa e seus juros. Em vez de investir esses saldos comerciais na sua própria economia, o Brasil transformou-se em um dos maiores pagadores de débitos. Para cumprir esses compromissos, mesmo os governos civis da década de 1980 fizeram os ajustes cobrados pelo FMI:

  • diminuição do consumo interno (recessão);
  • direcionamento da economia para os mercados externos (exportação).

Essas foram as consequências negativas das decisões nacionais, tomadas sem a participação popular durante os governos militares. No plano social, essas medidas geraram:

  • baixo crescimento econômico;
  • alto desemprego;
  • expansão de todos os tipos de submoradias nos grandes centros urbanos.

A elevada dívida externa e a forte cobrança pelo mercado financeiro internacional, em termos práticos, forçaram os governos seguintes a expandirem as fronteiras agrícolas internas. Milhões de hectares de florestas e cerrados foram transformados em pastos e culturas de soja para a exportação. O Brasil ampliou as suas exportações agrícolas, mas os dólares resultantes dessas atividades eram imediatamente remetidos ao exterior para quitar a dívida externa e os seus altos juros.

🌎 Impactos Ambientais e Sociais

Dessa maneira, a partir da década de 1970, em vez do planejamento do Estado, o espaço nacional foi organizado sob pressão de credores internacionais. Nesse processo, as vítimas foram o meio ambiente, os índios, os pequenos agricultores.

É fato que, durante os governos militares, muitas obras importantes foram concluídas. Também é verdade que o crescimento econômico alcançou um ritmo poucas vezes observado anteriormente. Mas, como já vimos, o modelo de desenvolvimento escolhido não foi o mais eficiente nem seguro. Sem democracia, com decisões importantes geradas em gabinetes, o Brasil cresceu na década de 1970 sem redistribuir a sua renda. Na verdade, muito da concentração de renda dos dias de hoje foi gerada durante os governos militares.

Durante o período de alto crescimento, também conhecido por "milagre brasileiro", a maior beneficiada foi a classe média, que se expandiu e acumulou mais renda. No conjunto, foi uma época de concentração de renda, concentração de terras, autoritarismo, devastação ecológica. Em vez de um progresso socioeconômico, o Brasil passou por um forte progresso econômico desigual e injusto.

"Na Suécia, o ministro do governo militar João Paulo dos Reis Veloso disse 'Venham poluir o Brasil!', uma forma nada sensível de estimular o aporte de capital estrangeiro. Em outra ocasião na mesma Conferência, declarou que 'no Brasil há muitos rios para poluir'. Na época, havia permissão legal e incentivos fiscais para substituir o que chamavam de forma quase pejorativa de florestas heterogêneas por florestas homogêneas com eucaliptos ou pinheiros-do-caribe, na metade da área das propriedades rurais. Desta forma era oficialmente permitida e incentivada a derrubada de matas originais em qualquer bioma."

- José Tabacow, paisagista e autor

"Exóticos, hippies, místicos. Estas eram denominações conferidas aos ecologistas há 25 anos, despreocupados com o crescimento, defensores de uma idílica volta ao passado. Do exílio, lembro-me de um outdoor em Paris, em que o governo ditatorial e ufanista exibia exuberante foto da Floresta Amazônica com os dizeres: 'Venham poluir-nos'. Nessa época, não havia legislação e órgãos ambientais que hoje inquietam os investidores."

- Carlos Minc

🔄 A Redemocratização e as "Décadas Perdidas"

Findo o ciclo dos governos militares, a partir de 1984, o Brasil entrou em um novo período democrático. Contudo, apesar das liberdades políticas, as décadas de 1980 e 1990 foram consideradas como "perdidas" sob a óptica econômica, pois não se chegou, nelas, a um significativo desenvolvimento socioeconômico.

Após longos surtos de inflação na década de 1990, o governo de Fernando Henrique Cardoso finalmente stabilizou a economia. Por outro lado, a face neoliberal dessa administração ficou marcada pela privatização de inúmeras empresas estatais com a intenção de saldar as dívidas governamentais. Contudo, os resultados não foram satisfatórios. As empresas estatais foram vendidas a preços muito baixos, e a dívida do Estado aumentou ainda mais.

Entramos no século XXI com mais concentração de renda e desigualdade social. Todos esses fatos evidenciam que os recursos do Brasil não foram aplicados adequadamente por suas administrações.

🌍 A Importância Econômica do Brasil no Mercado Mundial

Vários dados atestam que o Brasil é um país de destaque no cenário econômico global. Em 2006 o nosso país exportou US$ 137 bilhões e importou US$ 91 bilhões. O saldo da nossa balança comercial, portanto, foi de um superávit de US$ 46 bilhões. As nossas exportações, entre 2002 e 2006, aumentaram 127%. Em 2011 foi de US$ 256 bilhões. Esse crescimento ocorreu principalmente com os países subdesenvolvidos, com grande destaque para a América Latina e América do Sul.

🤝 Mercosul

Grande parte dos resultados comerciais brasileiros foi obtida no Mercosul, um importante bloco econômico que envolve a participação do Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. O Paraguai foi suspenso em 2012, quando os líderes do bloco concluíram que o processo de impeachment do presidente Fernando Lugo desrespeitou a ordem democrática do país.

O Mercosul é uma União Aduaneira e isso significa que os países que dela fazem parte têm políticas de liberação comercial (entre os membros) e política comercial comum (com uma Tarifa Externa Comum - TEC).

📌 SAIBA MAIS

Os países que formaram blocos econômicos do tipo Mercado Comum, como é o caso da União Europeia, além de liberarem a circulação de mercadorias, também estão abertos à livre circulação de capital e de trabalhadores. Desse modo, o Mercado Comum é mais abrangente do que a União Aduaneira.

Neoliberal: É a denominação de ideologias que propõem a diminuição da interferência do Estado nas questões econômicas, que passariam a ser reguladas de maneira mais ampla pelas ações do Mercado.

A Venezuela é o sócio mais novo do Mercosul - entrada em 2006 - e a sua participação é plena, ou seja, o país está comercialmente integrado ao bloco e também tem direito a voto nas decisões. A participação venezuelana no Mercosul dinamizou o bloco e gerou investimento na construção de uma refinaria.

❓ Questão 1

Com base em seus conhecimentos, leituras e respeito aos regimes militares e pós-quis, escreva em seu caderno a relação entre um caso de dano ambiental/social com o endividamento externo do Brasil. Para essa atividade, além de descrever um determinado evento, faça também a definição do local/região e época ou contexto histórico.

Alguns temas para pesquisa: destruição das comunidades de caiçaras no litoral do Sudeste, eliminação de culturas e tribos indígenas, urbanização caótica nas metrópoles e o problema viário, expansão das monoculturas etc.

❓ Questão 2

A pressão externa para o pagamento das parcelas da dívida externa foi tão forte que interferiu nos investimentos internos do Brasil. Argumente sobre esta informação, utilizando exemplos.

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